quarta-feira, 23 de abril de 2008

Arqueólogos de revista

Quando criança os meninos tem fascinação por dinossauros.
As meninas eu já não sei, nunca fui menina, pelo menos não nessa vida.
Para as crianças-meninos e talvez para algumas meninas-meninos-nessa vida todo e qualquer tipo de réptil gigante, também conhecido como dinossauro e chamado carinhosamente pelas avós de “esse bicho” (no plural – “esses bicho”) tem o grande poder de causar incrível fascinação.
Há quem goste dos Tricerátops, fortes e parrudos com chifres perigosos e um esqueleto armado; há quem prefira os Velociraptors, agéis e fatais com suas garras em forma de gancho; há quem goste dos com placas, espinhos, claro que há quem goste dos grandes predadores como o Tyranossauros Rex, e há ainda um seleto e diminuto grupo que goste dos pescoçudos. Por que entre todas as possíveis funções bacanas e impressionantes para se ter quando se é uma fera pré-histórica, poucas crianças entendem e enxergam na incrível capacidade de ter um pescoço grande alguma utilidade que não seja simplesmente ter um pescoço grande.
Não parece tão legal...
De qualquer maneira, forma ou cor, e vale ressaltar que são cada vez mais cores e pigmentos desde o advento da indústria chinesa, da pirataria sul-americana e, claro, das lojinhas de 1,99, é muito fácil encontrar brincando em algum canto do jardim uma inocente criança com seus felizes e ferozes dinossauros.
Assim que crescem um pouco, essas pobres almas são vitimadas pelo espírito do capitalismo, onde tornam-se capitaneavelmente “arqueólogos de revista”.
Todo mês, às custas dos pais (avós/tios ou qualquer pessoa a quem possam recorrer), os infantes encontram-se com sua revista preferida de dinos, com muitas informações, ilustrações vivas e um pedaço de osso “fosforecente” (também conhecido como fluorescente entre os mais estudados) colecionável.
Existem também suas variações, com o advento da modernidade, da indústria chinesa, pirataria sul-americana e as lojinhas de 1,99, muita coisa foi diversificada. Agora existem revistas que vem com ossos de madeira, plástico, plástico colorido, plástico que quebra-fácil e até mesmo revistas que vem sem osso de dinossauro.
E aqueles jovenzinhos que compram as revistas normais, ou quase normais, passam meses e até anos, imersos em seus dinossauros juntando calmamente (muitas vezes nem tanto) seus ossinhos. Obviamente encaram alguns percalços, peças que não encaixam, que quebram e até mesmo as peças que não encaixam e quebram ao mesmo tempo.
Isso pode vir a ser um contratempo, mas é sempre uma diversão, menos é claro para os pais (avós, tios, blábláblá) que tem que agüentar o inferno da criança chiando pelo “joelho do T-Rex que caiu”. Nos casos mais simples, super-bonder e paciência resolvem a questão, nos mais complicados, a aquisição de um novo exemplar da revista, depois sempre de muito choro e chatice, também pode resolver.
Em algum momento obscuro da vida essa criança que monta esqueletos de dinossauro cresce. Ocupado com os videogames, as tarefas de matemática ou algum outro motivo de vital importância, vão deixando os dinossauros de lado e finalmente no alto da estante ou da prateleira.
Na adolescência muitos desses dinos irão para as caixas de brinquedos velhos, para os irmãos mais novos, para bazares ou simplesmente para o lixo. Apenas algumas poucas das crianças-que-agora-são-adultos se lembram de onde guardaram seus dinos “fuorescentes”, ou onde aprenderam os nomes dos dinossauros, muitos nem lembram dos pobres dinossauros quando tem outras feras-pré-históricas para enfrentar diariamente.
Minha função aqui é exatamente essa.
É recuperar em cada um as criança-meninos e meninas-meninos-nessa vida dentro de vocês. É fazer com que lembrem por que vocês gostavam mais do T-Rex vermelho ou porque subiam a escada da casa do vô com um pé só. De se perguntarem por que os lactobacilos vivos são mantidos sempre em cativeiro ou onde foram parar aqueles carimbos coloridos que tinham uns desenhos bacana que você usava para encher a folha do caderno brochura da primeira série.
Não tenho a intenção de deixar ninguém nostálgico com tempos que não voltam mais, só quero mostrar que ainda é possível ter nos olhos aquele encanto pueril de brincar com seu dinossauro novo.
Porque assim como os Dinos, embora existam muitas explicações, seu encanto entrou em extinção e você nem ao menos se deu conta do que aconteceu realmente.
Crescer não é desculpa, desculpar-se é que é crescer.
Então, remexa suas tralhas e bugigangas, dentro e fora de você. Sacuda a poeira e se sinta bem.
E, claro, “comece seu dia comendo ovos”...

Sejam todos muito bem vindos ao Quiosque Dinossauro.

4 comentários:

Elsa Villon disse...

Acredito ser eu um dos maiores exemplos de menina que deu errado nessa vida.

Adorava dinossauros. Meu irmão colecionava uns que brilhavam no escuro e que obviamente, não me deixavam dormir.

Eu tinha o típico pescoçudo (maldosamente comparado ao meu pescoço). Ele era verde e roxo e chamava-se Frederico Paulo. Nem sei que fim levou.

Mas de acordo. Retomemos nossas lembranças dos Dinos com o devido carinho que eles merecem... afinal, os coitados se extinguiram por causa do tédio.

Cíntia Alves disse...

eu nunca colecionei dinossauros de brinquedo.
só revistas sobre vampiros.

Briccio disse...

Ah! Democracia...

Já temos uma guria que gostava de dinossauros humanos (o Frederico Paulo) e uma que gostava de dinossauros vampiros (ué, não foi isso o que ela disse?).

Dinossauros... Esses somos nós meus caros, sentados num banco de madeira num quiosque mais velho que o tempo, tão pre-histórico quanto cada pueira de nossas lembranças. Bebendo suco de morango com leite, conhaque e um pouco de refrigerante, num revertério agradável.

Vida ao Quiosque Dinossauro. Qual o sentido de tudo isso? Encontrarmo-nos. Eu a mim mesmo, você a mim, eu a cada um de vocês, cada um de vocês a si mesmos.

Nos vemos. Bien venue!

Cap. Pan

Anônimo disse...

eu nunca consegui terminar de montar aquele dinossauro que vinha naquela revista, sabe?